08 maio, 2011

O estranho caso do Todoroff em 2008

Vinhos inusitados surgem sempre em situações inesperadas, é o caso daquele que para mim se tornou o melhor vinho que provei em todo o ano de 2008, o que tendo em conta o número de viagens e tempo passado no estrangeiro, provando variadíssimos vinhos, é indicativo da sua importância.

A situação poderia ser comum, afinal começou com um jantar em altura de vindima na Catalunha com todos os residentes da casa onde nos encontrávamos. O que na verdade é dizer pouco... Espanhóis, de Navarra e Catalunha, Argentinos, Marroquinos e Portugueses, já se imagina a mescla que pode ser um jantar, quer em termos de entidades pessoais, linguísticas, culturais e principalmente gastronómicas.
O cozinheiro nessa noite foi marroquino, mas a ementa era variada, essencialmente couscous e vegetais, bem regado com vinho da L'Olivera, onde trabalhávamos.
Quase findo o jantar, acabou-se o vinho, evento estranho para um jantar de vindima e pior ainda, não havia mais vinho em casa. Ou pelo menos assim pensávamos, até que me lembrei de uma garrafa que tinha encontrado esquecida no cimo de uma prateleira, numa despensa da cozinha numa altura em que como primeiro hóspede da casa, explorei todos os seus recantos. Não me lembrava de que vinho era, mas obviamente todos os presentes acolheram a ideia de encontrar este vinho imediatamente para continuar o jantar. Assim foi, fui buscar a garrafa ao local onde não sabia se a encontraria, pois já haviam passado largas semanas. Encontrei-a tal e qual como a havia deixado e verifiquei ser um CabernetSauvignon Todoroff “Boutique“, Vintage 2004. Sim, um vinho Búlgaro, perdido numa despensa de uma cozinha do interior esquecido da Catalunha.
Infelizmente não tinha na altura um wine journal, razão pela qual não tenho notas de prova desse vinho, resta-me apenas a recordação provocada pelos taninos particularmente redondos e macios e das pirazinas, presentes na conta certa evidenciando o carácter de um Cabernet. Todos nos rendemos a este forasteiro, de uma terra distante, não tradicional de vinho mas que nos impressionou e arrebatou neste jantar.

Há vinhos que marcam uma ocasião, ou ocasiões que marcam um vinho, não saberei com certeza afirmar qual das situações aconteceu. Não tenho no entanto qualquer dúvida em afirmar que foi único, inesquecível e por muito que se quisesse, impossível de repetir.

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